Marcha das Vadias CG/PB


A Marcha das Vadias é um movimento que surgiu a partir de um protesto realizado em 3 de abril de 2011 no Canadá quando, após uma série de casos de abuso sexual na Universidade de Toronto, o policial Sanguinetti afirmou que “as mulheres deveriam evitar se vestirem como vadias, para não serem vítimas".
Desde então o movimento é realizado em diversas partes do mundo, em protesto contra a cultura de que se devem treinar as mulheres para não serem violentadas, ao invés de educar os homens para não serem violentos.
Em 2012, Campina Grande realizou sua primeira Marcha das Vadias, com a mesma pauta das Marchas que ocorriam no mundo e no Brasil, e mostrando à população que em uma sociedade machista toda mulher é considerada vadia.
Somos vadias se dizemos sim, se dizemos não, se não aceitamos apanhar de nossxs companheirxs, se não aceitamos o sexo sem vontade, o desrespeito e que tomem nosso dinheiro. Quando não aceitamos que nos toquem sem nossa permissão e reclamamos de ouvir cantadas grosseiras e aos gritos na rua. Se não queremos ter filhos ou quando temos muitos. Se “ousamos” ocupar cargos de poder, se trabalhamos, ou quando optamos por sermos donas de casa e nos acusam de viver às custas de maridos. Quando escolhemos viver como gente, sendo livres para escolher nossxs parceirxs, a roupa que usamos, nossas ocupações, nossa vida... Somos SEMPRE chamadas de vadias.

E se é assim que nos veem, somos todas
vadias com muito orgulho!

Nesse ano, a Marcha das Vadias de Campina Grande será novamente um espaço para que todxs ponham sua voz nas ruas contra o machismo, a violência, o preconceito, o racismo e a opressão.
Será também uma manifestação política de exigência ao Governo do Estado da Paraíba para que adote todas as medidas necessárias para que a Delegacia Especializada da Mulher (DEM) de Campina Grande não funcione somente durante o dia e das segundas às sextas-feiras, mas também à noite, nos finais de semana e feriados, isto é, nos dias e horários em que acontece o maior número de agressões às mulheres e em que estão mais desprotegidas.
Por isso convidamos os vadios e vadias de Campina Grande para que nos acompanhem nessa luta que é de todxs!











MARCHA DAS VADIAS DE CAMPINA GRANDE - 2012

O nosso evento será encerrado com a primeira MARCHA DAS VADIAS de Campina Grande. Segue abaixo a CARTA MANIFESTO:

O caráter patriarcal e machista que caracteriza a estrutura social do Nordeste brasileiro não é nenhuma novidade. Ele é resultado de um processo histórico que fixou o domínio e a opressão do homem sobre a mulher, uma relação já tão estigmatizada que se fez objeto de representação na literatura e no cinema, por exemplo, exportando uma visão de Nordeste que só contribuiu para a manutenção dessa realidade.
A telenovela 'Gabriela' que está no ar pela Rede Globo de Televisão tem mostrado a relação de submissão aos homens a que as mulheres eram sujeitas. Ambientada [a telenovela] no interior do estado da Bahia no início do século XX, essa mulheres eram, em muitos casos, forçadas a se deitar com seus próprios maridos por obrigação, vendo negados os seus direitos ao prazer e à expressão de pensamento – sem o domínio de seus corpos, eram meros objetos sexuais do homens. Por esta época, a “moral e os bons costumes” eram hipocritamente idolatrados tanto pelos homens, que buscavam nas “casas de prazer” a realização de suas fantasias, enquanto se apresentavam como pessoas de respeito para a sociedade, quanto por algumas mulheres que, por força da educação que receberam, acreditavam naquela lógica. Apesar dos avanços que conseguimos, nossa sociedade ainda é reflexo daquela antiga estrutura. Comprovamos isso quando vemos a exibição do corpo feminino em propagandas de cerveja ou quando rimos de piadas machistas proferidas por tantos “humoristas” Brasil afora... Essas são também formas de violência e nós temos que estar atent@s a elas!
Em recente pesquisa divulgada aqui no Brasil sobre a violência contra a mulher, a Paraíba aparece como o 4º estado com o maior índice de homicídios de mulheres, estando a capital João Pessoa na 12ª posição dentre as demais capitais da federação. O índice de violência contra as mulheres no Estado em 2012 é 50% maior em relação ao ano passado. Até abril deste ano, já foram assassinadas 41 mulheres na Paraíba sendo 26 por crimes machistas e sexistas e 15 por suposto envolvimento com drogas (Fonte: Centro da Mulher 8 de Março). Esses números são bem maiores, pois a maioria dos casos não chega a ser noticiado na imprensa.
Um dos mais chocantes ocorreu há pouco tempo na cidade de Queimadas, a 19km de Campina Grande: cinco mulheres foram estupradas, sendo duas brutalmente assassinadas. O estupro coletivo foi um “presente” de aniversário, um crime cruel que revela o quanto ainda precisa ser feito no enfrentamento à violência contra a mulher, ao machismo e ao patriarcado.
Longe da nossa realidade local, em 2011, na cidade de Toronto, no Canadá, um policial teve a infelicidade de dizer, na verdade de 'aconselhar' numa palestra sobre segurança proferida numa universidade, que as mulheres deixassem de ser vestir como 'vadias' para evitar os constantes casos de estupro que vinham ocorrendo na instituição. Esse foi o estopim para a indignação das estudantes, que se mobilizaram e promoveram a primeira Marcha das Vadias, levando às ruas cerca de três mil pessoas, que se manifestaram publicamente contra a alegação de que as mulheres são violentadas por causa da forma como se vestem. Em pouco tempo, a marcha das vadias se espalhou pelo mundo. No Brasil, pelo segundo ano consecutivo, diversas marchas têm acontecido em todas as regiões. Em Campina Grande esta será a primeira vez.
E como disseram as manifestantes da marcha de Brasília em sua carta: 'hoje marchamos para dizer que não aceitaremos palavras e ações utilizadas para nos agredir. Se, na nossa sociedade machista, algumas são consideradas vadias, TODAS NÓS SOMOS VADIAS. E somos todas santas, e somos todas fortes, e somos todas livres! Somos livres de rótulos, de estereótipos e de qualquer tentativa de opressão masculina à nossa vida, à nossa sexualidade e aos nossos corpos. Estar no comando de nossa vida sexual não significa que estamos nos abrindo para uma expectativa de violência, e por isso somos solidárias a todas as mulheres estupradas em qualquer circunstância, porque tiveram seus corpos invadidos, porque foram agredidas e humilhadas, tiveram sua dignidade destroçada e muitas vezes foram culpadas por isso. O direito a uma vida livre de violência é um dos direitos mais básicos de toda mulher, e é pela garantia desse direito fundamental que marchamos hoje e marcharemos até que todas sejamos livres.'

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